quarta-feira, 16 de maio de 2012

POSTITUIÇÃO INFANTIL de OLAVO BILAC

Olavo Bilac
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Conhecido por sua atenção a literatura infantil e, principalmente, pela participação cívica, era republicano e nacionalista; também era defensor do serviço militar obrigatório. Bilac escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ao governo de Floriano Peixoto. Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Em 1907, foi eleito “príncipe dos poetas brasileiros”, pela revista Fon Crônica: um gênero literário
       A crônica é um gênero literário que, a princípio, era um "relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar"1, isto é, uma narração de episódios históricos. Era a chamada "crônica histórica" (como a medieval). Essa relação de tempo e memória está relacionada com a própria origem grega da palavra, Chronos, que significa tempo. Portanto, a crônica, desde sua origem, é um "relato em permanente relação com o tempo, de onde tira como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido".
        A crônica se afastou da História com o avanço da imprensa e do jornal. Tornou-se "Folhetim". João Roberto Faria no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar nos explica:
"Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino."
        O folhetim fazia parte da estrutura dos jornais, era informativa e crítica. Aos poucos foi se afastando e se constituindo como gênero literário: a linguagem se tornou mais leve, mas com uma elaboração interna complexa, carregando a força da poesia e do humor.
        Ainda hoje há a relação da crônica e o jornalismo. Os jornais ainda publicam crônicas diariamente, mas seu aspecto literário já é indiscutível. O próprio fato de conviver com o efêmero propicia uma comunicação que deve ser reveladora, sensível, insinuante e despretensiosa como só a literatura pode ser. É "uma forma de conhecimento de meandros sutis de nossa realidade e de nossa história..."2.
        No Brasil, a crônica se consolidou por volta de 1930 e atualmente vem adquirindo uma importância maior em nossa literatura graças aos excelentes escritores que resolveram se dedicar exclusivamente a ela, como Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo, além dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade, que também resolveram dedicar seus talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma extremamente significativa.
           Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida..."
Observe que até nos nossos dias os temas abordados por Bilac são atuais, pois estão em evidências todos os dias nos meios de comunicação.
-Fon. Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas brasileiros, é considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos. No entanto, para o crítico João Adolfo Hansen, "o mestre do passado, do livro de poesia escrito longe do estéril turbilhão da rua, não será o mesmo mestre do presente, do jornal, a crônica aborda assuntos cotidianos do Rio, prontinho para intervenções de Agache e a erradicação da plebe rude, expulsa do centro para os morros"
Podemos dizer que através da crônica, Bilac expressou de forma exemplar o seu pensamento e os arranhões à sua sensibilidade, as suas perplexidades e revoltas diante dos destinados humanos e do desconcerto do mundo. Mas também os seus sonhos de um país mais civilizado e de um mundo melhor. Este livro apresenta uma seleção com as melhores crônicas de Olavo Bilac.

Crônica: um gênero literário
       A crônica é um gênero literário que, a princípio, era um "relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar"1, isto é, uma narração de episódios históricos. Era a chamada "crônica histórica" (como a medieval). Essa relação de tempo e memória está relacionada com a própria origem grega da palavra, Chronos, que significa tempo. Portanto, a crônica, desde sua origem, é um "relato em permanente relação com o tempo, de onde tira como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido".
        A crônica se afastou da História com o avanço da imprensa e do jornal. Tornou-se "Folhetim". João Roberto Faria no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar nos explica:
"Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino."
        O folhetim fazia parte da estrutura dos jornais, era informativa e crítica. Aos poucos foi se afastando e se constituindo como gênero literário: a linguagem se tornou mais leve, mas com uma elaboração interna complexa, carregando a força da poesia e do humor.
        Ainda hoje há a relação da crônica e o jornalismo. Os jornais ainda publicam crônicas diariamente, mas seu aspecto literário já é indiscutível. O próprio fato de conviver com o efêmero propicia uma comunicação que deve ser reveladora, sensível, insinuante e despretensiosa como só a literatura pode ser. É "uma forma de conhecimento de meandros sutis de nossa realidade e de nossa história..."2.
        No Brasil, a crônica se consolidou por volta de 1930 e atualmente vem adquirindo uma importância maior em nossa literatura graças aos excelentes escritores que resolveram se dedicar exclusivamente a ela, como Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo, além dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade, que também resolveram dedicar seus talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma extremamente significativa.
           Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida..."
Observe que até nos nossos dias os temas abordados por Bilac são atuais, pois estão em evidências todos os dias nos meios de comunicação.

Prostituição infantil
Não sei que jornal, há algum tempo, noticiou que a polícia ia tomar sob a sua proteção as crianças que aí vivem, às dezenas, exploradas por meia dúzia de bandidos. Quando li a notícia, rejubilei. Porque, há longo tempo, desde que
comecei a escrever, venho repisando este assunto, pedindo piedade para essas crianças e cadeia para esses patifes.
Mas os dias correram. As providências anunciadas não vieram. Parece que a piedade policial não se estende às crianças, e que a cadeia não foi feita para dar agasalho aos que prostituem corpos de sete a oito anos… E a cidade, à noite, continua a encher-se de bandos de meninas, que vagam de teatro em teatro e de hotel em hotel, vendendo flores e aprendendo a vender beijos.
Anteontem, por horas mortas, [***] que me encheu de mágoa e de nojo, de indignação e de angústia. Saía de um teatro. [***] rua central da cidade, deserta há essa hora avançada da noite, vi sentada uma menina, a uma soleira de porta. Dormia. Ao lado, a sua cesta de flores murchas estava atirada sobre a calçada. Despertei-a.
A pobrezinha levantou-se, com um grito. Teria oito anos, quando muito. Louros e despenteados, emolduravam os seus cabelos um rosto desfeito, amarrotado de sono e de choro. E dentro do miserável vestidinho de chita, todo o seu corpo tremia como numa convulsão, nervosamente. Quando viu que não lhe queria fazer mal, o seu ar de medo mudou-se logo num ar de súplica. Pediu-me dez tostões, chorando.
E a sua meia-língua infantil, espanholada, disse-me cousas que ainda agora me doem dentro do coração.
Perdera toda a féria. Só conseguira obter, ao cabo de toda uma tarde de caminhadas e de pena, esses dez tostões — perdidos ou furtados. E pelos seus olhos molhados passava o terror das bordoadas que a esperavam em casa…
"Mas é teu pai quem te esbordoa?"
"E um homem que mora lá em casa…"
Dei-lhe os dez tostões, sem poder falar.
Ela, já alegre, com um sorriso divino que lhe iluminava a face úmida, pediu-me mais duzentos reis — para si, esses, para doces.
Guardou a nota na cesta, e meteu a mesada na meia, depressa, para a esconder…
Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia já, pequenino, quase invisível na escuridão. Ainda de longe o vi fracamente alumiado por um lampião, sumir-se, dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma.
Ora — nestes tempos singulares em que a gente já se habituou a ouvir sem espanto cousas capazes de horrorizar a alma de Deiber —, é possível que alguém, encolhendo os ombros diante disto, me pergunte, o que é que eu tenho com a vida das crianças que vendem flores e são amassadas a sopapos quando não levam para casa uma certa e determinada quantia.
Tenho tudo, amigos meus! não penseis que me iluda sobre a eficácia das providências que possa a polícia tomar, a fim de salvar das pancadas o corpo e da devassidão a alma de qualquer dessas meninas. Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto houver meninas — proteja-as ou não as proteja a polícia —, haverá pais que as esbordoem, mães que as vendam, cadelas que as industriem; cães que as deflorem!
Bem o sei: mas sei também que possuo nervos que vibram coração que se impressiona e olhos que vêem. E se a polícia não pode impedir a continuação dessa infâmia — pode pelo menos impedir que ela se ostente escandalosa, florescendo e frutificando a sombra da sua indulgência e da sua tolerância.
A polícia não pode proibir também que as meretrizes de profissão se entreguem ao seu comércio. Mas não deixa que elas apareçam nuas à janela, e muito menos consente que venham fazer no meio da rua, à luz meridiana, o que fazem no interior das casinhas de porta e janela. Com um milhão de raios! Quem tem a desgraça de possuir dentro do organismo um cancro incurável — não podendo extirpá-lo, trata ao menos de o esconder, por higiene, por decência, por pudor!
Demais, que custa abrir um inquérito para conseguir saber que grau de parentesco existe entre as crianças vendedoras de flores e os que as exploram? Eu, por mim, posso afirmar a quem de direito que, em cada grupo de dez crianças dessas, interrogadas por mim, duas apenas me têm dito que conhecem pai ou mãe…
Enfim, todos nós temos mais que fazer. E talvez a sorte melhor que se possa desejar hoje cm dia a uma criança pobre — seja uma boa morte, uma dessas generosas mortes providenciais, que valem mais que todas as esmolas, todas as bênçãos, todos os augúrios felizes e… toda a comiseração dos cronistas.
Olavo Bilac.
Narrador e Foco Narrativo
Narrador: Na crônica o narrador e o leitor, que entende e interpreta a historia por completo,
O escritor interpreta muitas partes da historia.

Foco Narrativo: Na crônica o Foco narrativo é o Narrador-Personagem, que conta a historia e participa ao mesmo tempo dela. Na parte em que o Narrador personagem encontra uma garota, ele narra e ao mesmo tempo participa da cena.
Personagens - Características e Função
Menina - Frágil, inocente, faz apenas o que manda fazer, pois só querem ser feliz.
Narrador - Pessoa direta (concisa) que busca seus objetivos, tipo de pessoa que pode-se contar com ela para as causas sociais.

Polícia - Não cumpri sua obrigação de maneira correta tirando as crianças das ruas e prendendo as pessoas que contribuem para que as crianças estejam nas ruas, onde deveriam estar na escola.

Aliciador - São pessoas que se aproveitam da fragilidade das crianças para fazer as mesmas trabalharem e trazer dinheiro para casa, e se isso não acontecer são obrigadas a se prostituir para não serem violentadas e massacradas por essas pessoas.
Enredo
A crônica( prostituição infantil), conta a história de uma menina de sete anos que a mercê da noite, está dormindo em uma soleira de porta de porta com uma cesta de flores, não foi para casa por não ter conseguido vender as flores, pois se chegasse em sua casa sem o dinheiro era espancada e maltratada pelo aproveitador que morava com ela pois ela nem conheceu seus pais.
Já as outras meninas de sete a dez anos tem que vender seu próprio corpo, pessoas que ainda não são mulheres e muitas vezes são os próprios pais que obrigam ou essas pessoas que se aproveitam das crianças que vivem nas ruas.

Por não quererem trabalhar colocam meninos e meninas na rua para se prostituir, vender flores, pedir no semáforo, fazer malabarismo, etc.
Análise Literária da crônica
A crônica fala sobre a prostituição infantil de crianças de sete a oito anos de idade no qual a mesma fala sobre uma menina solitária que vende flores e se prostitui para poder ajudar a família com o dinheiro que recebe.

Possui tempo cronológico, pois a crônica se passa a noite numa rua central da cidade, diz também que muitas vezes elas são obrigadas a vender seu corpo para estranhos.
Fala que a polícia certas vezes deixa de fazer o seu trabalho não prendendo as pessoas que abusam das crianças indefesas.

Várias dessas crianças não conhecem seu pai nem sua mãe e passam a viver com pessoas que se aproveitam e obrigam-na a vender coisas, pedir esmola e algumas vezes se prostituir.

Título da crônica: “Prostituição infantil”. Autor: Olavo Bilac (1865-1918). Data da publicação: 14 de agosto de 1894. há exatamente 117 anos! O mal é espantosamente mais antigo do que imaginamos. Atentados à integridade e à vida de pessoas indefesas, extorsão da dignidade alheia e agressões irreversíveis contra o caráter deixam ver claramente que são males que acompanham a civilização pari passou, em sua longa caminhada.
Se em fins do século dezenove já se faziam crianças vítimas de exploração sexual, que apelo podemos fazer hoje quando casos dessa natureza são tão corriqueiros e mostrados às escâncaras nos meios de comunicação? A população brasileira atual, principalmente a de bandidos, multiplicou-se em progressão geométrica, as probabilidades de acontecerem crimes desse tipo crescem, portanto, assustadoramente. A realidade é inegável.
Bilac apelava, em seu tempo, à piedade policial. A sociedade agora dispõe de um aparelho amplamente mais fortalecido, incluindo os conselhos tutelares, as varas judiciais específicas, as ONGs, a própria polícia e uma sociedade mais bem-informada, além de segmentos que resolveram se unir para combater os atos animalescos de prostituição infantil.
Muitas cidades já vêm aderindo ao chamado “toque de recolher”, uma medida recente que de certo modo está obtendo algum êxito. Mas os crimes contra a infância reitere-se, são, a nosso ver, quase inevitáveis. As tragédias parecem não comover como deviam. Já ouvi mesmo pais darem depoimentos frios sobre a perda de seus filhos menores que foram ceifados de modo estúpido. Como se nada tivesse acontecido.
Da distante época em que Bilac já denunciava essa barbárie, aos dias de hoje, o que se pode concluir é que pouca coisa, na verdade, foi feita pelo Estado para coibir com austeridade tais absurdos. E ainda não estamos levando em conta aqui os casos escamoteados, com frequência, pelas próprias famílias, não raras vezes as verdadeiras culpadas desses delitos. O resultado deprimente da prostituição infantil, via de regra, são as mães precoces e sem amparo, que contribuem com isso para um efeito do tipo “bola de neve” das misérias sociais

Em sua crônica, Bilac afirma ter sentido “a morte na alma”. Nem calculo o que sentiria hoje o grande poeta. As crianças agora já não vendem mais flores. O mercado é incisivamente mais direto e plenamente aberto. Já não vendem só beijos, mas o corpo. Até posso ver esses(as) mesmos(as) infelizes de tenra idade na versão moderna dos(as) “flanelinhas” que, a exemplo de quase tudo hoje, já estão simbolizando para se oficializar como categorias organizadas, na forma de associação etc, como se a dignidade e o bem-estar dessas pessoas tenham uma solução definitiva na forma de um estatuto.
E eis o mais grave nas palavras proféticas de Bilac: “Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto houver meninas, haverá pais que as esbordoem, mães que as vendam, cadeias que as industriem e cães

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